segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Conheça a história da Denise Ormindo

Foto da Denise Ormindo 


Na semana passada, tivemos a alegria de receber um depoimento lindo da Denise Ormindo, de São Paulo. É maravilhoso ter o privilégio de fazer parte da história de tantas pessoas e podermos ajudar a transformar tantas vidas. Aos poucos, a Denise está costurando um novo capítulo na sua história. Uma história de muitas conquistas. Pois, como ela mesma disse, “somos todos parte de uma colcha de retalhos chamada vida”.

Confiram abaixo o lindo depoimento que a Denise nos enviou.




Minha história

Sou filha de mãe costureira e pai sapateiro. Cresci em meio a linhas, agulhas e tecidos, numa época em que havia pelo menos uma boa costureira em cada vila e lojas de armarinhos nos bairros.

Desde muito cedo tive contato com esse universo: a casa era um entra e sai de mulheres. Minha mãe era, além de excelente costureira, amiga, confidente e ótima "psicóloga". Quando uma cliente atravessa a ponte da prestação de serviço vira amiga. Essa confiança na profissional se torna uma laço lindo (pelo menos antigamente era assim).

Ao entrar na escola, percebi que minha mãe não sabia ler e escrever (e ela costurava desde os sete anos). Ela fez o mobral quando entrei na primeira série da escola.

Como estava sempre com ela, onde quer que fosse, inclusive nas lojas de tecidos, armarinhos em geral, minha percepção sobre o mundo da costura foi ficando cada vez mais aguçada.

Com dez anos comecei a dar os primeiros passos indo buscar linhas e aviamentos nas lojas próximas de casa. E ai de mim se a linha não chegasse na cor certa. rs

Com 11/12 anos, já tirava as modelagens da Revista Manequim que minha mãe tinha em casa. Antes disso ela fazia de olho. Depois, quando a cliente escolhia um modelo, eu toda eufórica tirava os moldes da revista para a minha mãe.

Mas como o mundo dá muitas voltas, casei aos 17 anos e fui mãe aos 18. Aos 27, me vi com quatro filhos (o mais velho com dez anos e a caçula com 6 meses) abandonada pelo marido e sem norte algum na vida. Foram tempos difíceis, de muita luta e perrengues pra criar e sustentar os meus filhos.

Comecei a trabalhar fora e fiz de tudo um pouco. Ganhei um curso de confeitaria e passei a trabalhar na área. Nesse intervalo de tempo, havia perdido meu pai. Seis meses depois que casei, a saúde da minha mãe já não era a mesma e, por conta do diabetes, ela foi aos poucos parando de costurar. Ficou praticamente cega e teve que abandonar a profissão.

Minha mãe tinha deixado comigo por muito tempo uma máquina de costura Singer, das antigas, e eu me aventurava a fazer algo.

Minha maior felicidade foi o dia em que ela aprovou uma saia lápis que fiz. Já morando em outro bairro e com uma Singer, quase da minha idade, fazia algumas peças. Fiz todos os vestidos da gestação de uma amiga minha, vestidos de daminhas de casamento e algumas coisas pra casa.

Ao mesmo tempo que precisei trabalhar fora, voltei a estudar. Concluí o ensino médio, fiz Enem e consegui uma bolsa integral na faculdade de gastronomia.

Aos 36 anos estava na faculdade e ao mesmo tempo mil coisas estavam acontecendo na minha vida. Sempre com a costura entremeando as coisas, mesmo de uma forma simples, sutil. Os filhos cresceram, foram tomando rumo na vida.

Durante a faculdade, meu irmão mais velho faleceu, o que agravou ainda mais a situação da minha mãe. Já quase dois anos depois de formada, Deus disse numa palavra que iria mudar minha profissão na terra, e mudou.




A VIDA É UMA COLCHA DE RETALHOS


Voltei às origens.

Comecei a prestar serviço voluntário de costura e como minha caçula precisava da minha presença, porque os meus filhos mais velhos já estavam em fase de trabalhar fora e estudar, a costura se encaixou perfeitamente nesse momento.

Podia acompanhar tudo, ter renda dentro de casa. Minha maior paixão são os vestidos de noiva e festa. Comecei a costurar em casa, com aquela máquina antiga.

Mas àquela Denise, curiosa e inquieta sempre foi atrás da informação, da ajuda, da pesquisa. Queria modelar do zero, era muito difícil não poder fazer um modelo da revista que não se encaixava no manequim da cliente.

Aquele meu irmão falecido havia me dado de presente o material da Vogue, mas era uma modelagem que nem sempre dava certo. Contudo, era melhor que nada. Com base nele, fui aprendendo errando e corrigindo, mas eu queria mais.

À medida que fui trabalhando, com toda a dificuldade que toda costureira enfrenta, consegui fazer uns cursos gratuitos e finalmente aprendi a modelar do zero. Foi muito útil, mas mesmo assim cavas e mangas sempre foram um grande problema. Resolvia, mas sofria muito até resolver.

Depois de 19 anos, voltei ao bairro que nasci. Continuava tentando fazer o melhor na modelagem, algo mais técnico e mais bem feito.

Até que, com um melhor acesso às coisas, conseguimos internet em casa e junto com o wi-fi o mundo do YouTube e da costura se abriu pra mim. Assisti incontáveis vídeos para adquirir mais conhecimento.

Há quase quatro anos, depois de seis anos muito difíceis, minha mãe faleceu. Somos todos parte de uma colcha de retalhos chamada vida.


A CHEGADA DO MÉTODO DE CORTE CENTESIMAL


Não sei em que época ao certo mas, vez ou outra, ouvia falar sobre o Método de Corte Centesimal. Mas não liguei os pontos, sempre deixava pra lá.

Nas coisas da minha mãe vieram junto alguns métodos e modelagens (uma das primeiras edições da Sigbol inclusive).

Mas, nenhum deles conseguiu me atender por completo e seguia em busca da cava perfeita.

Desde aquela menina, que percorria os armarinhos da vila, até a avó que sou hoje (fui vó aos 40), vi e vivi muita coisa e me deparei, infelizmente, com a finitude daquela cultura da costureira da vila e junto com ela a finitude das lojinhas de armarinhos dos bairros. Em 2000, a última no bairro que morava na época fechou. Houve um apagão no setor.

Segui lutando, com muita dificuldade financeira, pois cuidar da família e ser pai e mãe não deixava espaço pra mais nada.

Há quatro anos, minha filha caçula saiu do ensino médio, Como eu desde criança gostava de desenhar roupas e não tinha aptidão nenhuma pra isso, decidi então prestar o vestibular junto com a minha filha, para o curso técnico em modelagem do vestuário, da Etec São Paulo.

Fizemos a inscrição e lá fomos nós, alegres prestar a prova. Passei em segundo lugar e ela acabou não conseguindo, infelizmente.

Entrei no curso e para minha surpresa o quebra cabeças da minha vida inteira se juntou nele. Toda minha inquietude, sede por saber, por me informar, todas minhas questões internas simplesmente se encaixaram.

Foi lindo e louco ao mesmo tempo. Toda bagagem acumulada de anos e anos de tudo, de vida, de histórias, de amigos, tudo convertia pra isso e essa era a peça que faltava. Mas ainda continuava em busca da cava perfeita.

Há uns dois anos, uma tia minha viajou até outra cidade pra ter uma aula de costura. E voltou da viagem com mais um “método”.

Eu que andava meio descrente de tantos métodos, vi aquele "monte de réguas" e nem dei muita atenção.

Fiquei de tirar um tempo pra entender pra poder ajudá-la, porque ela tinha feito apenas uma aula. Mas ainda não consegui parar pra poder fazer isso.

Até que, um dia, assisti por acaso um vídeo da Lara Rogedo contando a história de um método de modelagem de roupas. Porém, ainda não havia ligado os pontos que seria o mesmo método que essa minha tia tinha trazido de fora.

Fiquei encantada com a história e por saber que foi a partir da observação de um engenheiro que foi construído todo o método e aquilo me interessou muito.

Como nada foi fácil até aqui, como “vendemos o almoço pra comprar a janta”, não sobrava dinheiro pra fazer o curso.

Aí tive o clic. Percebi que aquele método que aparecia no vídeo da Lara Rogedo, era o mesmo método que a minha tia havia aprendido na outra cidade.

Mas, como minha tia não tinha me emprestado para estudar o material dela, fiquei sem jeito de pedir e o tempo foi passando.

Até que esse ano, na primeira parcela do meu auxílio emergencial consegui comprar à vista o material do Método de Corte Centesimal para mim.

Entretanto, estávamos em plena pandemia, com tudo parado, tudo fechado. A costura sob medida estava praticamente parada. Estava quase sem renda e sem ânimo pra nada.

Ao mesmo tempo, com as máscaras, foi uma época de muito trabalho. Graças a Deus, apesar dos percalços da vida, fiz bastante máscaras de tecido para vender. Com isso, não conseguia ter tempo para me dedicar aos estudos e poder abrir o meu livro.

Agora, de uns meses pra cá, a demanda por máscaras de tecido caiu muito, pois tem bastante gente produzindo. Em contrapartida, algumas clientes estão voltando.

Aí pensei. Não vou esperar pra fazer o curso não. Vou começar a estudar agora. Vou fazer igual aquela menina curiosa que descobriu como tirar os moldes da revista sem nem saber os nomes das peças ou linguagem técnica.

E, finalmente, a busca pela cava perfeita acabou.

Tomei coragem, abri o livro (inclusive fiz o post) e fiz a modelagem. Você não imagina o tamanho da minha alegria e surpresa ao ver a tela do vestido cair como uma luva nela! A cava não teve um milímetro de prova. Foi maravilhoso! Estou encantada com o Método de Corte Centesimal.

Precisei limpar minha mente de tudo que havia visto e estudado até então para poder entender como ele funciona. Mas foi rápida essa transição.

Ao ler com calma e seguir os passos foi possível fazer de primeira a modelagem. E mais: saiu perfeita! Já estou fazendo outro vestido para uma madrinha que, inclusive fez a prova na tela hoje, e foi outro desafio.

Quando a cliente é plus size ela tem muitas particularidades. Costura sob medida é um desafio a cada nova cliente.

Mas, ao entendermos como se aplica as escalas do Centesimal, conseguimos um excelente resultado. Agrega valor e agilidade e isso é sensacional. Pena não ter conhecido há mais tempo, pois teria me poupado muito trabalho. Hoje posso dizer que a cava perfeita existe.


Denise com o vestido criado e modelado por ela, com o Método de Corte Centesimal. 



REALIZANDO SONHOS


Aos poucos, estou conseguindo realizar pequenos sonhos. Estou me equipando com o necessário para trabalhar melhor. No ano passado, consegui uma reta e uma overloque novinhas. Esse ano, mesmo com toda a loucura que estamos vivendo, já consegui adquirir uma máquina de corte e um ferro industrial. E, assim que eu puder, também quero fazer o curso online de “Introdução ao Método de Corte Centesimal”. Creio que vai me ajudar a acelerar o processo de aprendizado.

Sabe, na faculdade, meu TCC foi todo em cima do que é descartado na indústria da confecção. Isso, há quatro anos. E hoje está havendo uma retomada do feito à mão, do natural, um resgate da costura.

Meu sonho agora é me tornar instrutora do Corte Centesimal. Quero me especializar para conseguir. Aqui em São Paulo tem campo pra trabalhar com isso. Mas falta quem ensine e eu amo ensinar.

Desde que voltei a estudar, percebi que de alguma forma, eu sempre ensinava as pessoas. E foi assim no supletivo, na faculdade fiz um curso “Jovem Professor'' e fiz curso de didática.

Encontrar vocês foi muito bom. Uma alegria. Porque agora vejo que sim, que tenho um bom material e uma metodologia boa pra passar pras pessoas.

Minha "cobaia" vai ser essa tia, que fez a aula e não continuou. Vou ajudá-la no entendimento.

Ensinar nos ajuda a aprender. A gente precisa mesmo se unir para deixar esse legado lindo da costura para as próximas gerações.


Meus contatos: 

Meu whatsapp 

11 993221893

ormindodenise@gmail.com

Instagram: @deniseormindo

Costura sob medida. 


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E você? Tem uma história com o Corte Centesimal? Compartilhe conosco. Queremos conhecer você. Escreve para carolina@cortecentesimal.com.br.



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